O tempo e a vida
Nossa vida segue Khronos com uma linearidade que amedronta até o pior dos demônios e,
à medida que envelhecemos, contamos as horas, os dias e os números, sejam eles
baseados nos calendários solares ou lunares. Com influência no tempo e na vida
apresento-lhes, um garoto chamado Crono, que aventura-se inicialmente apenas
com seus conhecidos em uma feira na vila onde moram. Porém, mais tarde, deixa
de lado uma vida simples e adorável com sua mãe, para seguir caminhos que levam
de uma dimensão à outra. Através das eras passadas e futuras é que o protagonista
vive uma aventura muito além da janela de seu quarto.
O enredo
começa quando Crono, após um tropeço durante seu trajeto até a feira milenar,
conhece a linda princesa Nadia, que procura por seu precioso colar que acabou
perdendo quando tropeçou com o jovem. O garoto, então, decide ajudar a princesa
a encontrar o colar e, após achá-lo, resolvem ir ao encontro de Lucca na praça
principal. A pequena inventora traz ao conhecimento da sociedade, uma máquina
de teletransporte, ao testar o equipamento, guiado pelo colar da jovem nobre,
um portal se abre e ela é mandada para outra dimensão, Crono e Lucca partem em
busca da princesa. Diante desse acontecimento, os jovens passam a ter acesso a
diversos períodos históricos através dos portais do tempo, e descobrem que
terão que salvar seu Futuro, evitando que o monstro Lavos destrua-o.
As escolhas
A narrativa do
game segue a partir de suas escolhas, contendo uma carga dramática, sensível, e
emocionante, é necessário tomar algumas atitudes mesmo que isso implique em
consequências nem sempre agradáveis. O momento que eu mais me surpreendi teve a
ver primeiramente com o julgamento de Crono e a forma como o jogo traz a tona
ações que eu tive no começo, exemplo: comer o alimento de um senhor na venda
sem a sua permissão ou pegar o colar da princesa Nadia imediatamente, tais
ações me levaram a condenação pela corte. Outro aspecto importante é a
desconstrução do tempo, mostrando como nossas ações e escolhas no presente
influenciam nosso futuro, e como alguns personagens surpreendem o jogador,
evidenciando nosso preconceito e falta de conhecimento histórico. No fim das contas acabei não fazendo nada por
maldade, eu simplesmente não conhecia o jogo e, portanto agi apenas por
instinto, e inocência, algo que talvez devesse ser levado em conta, já que
normalmente o jogador não conhece, ou pelo menos não deveria conhecer como o
jogo funciona e quantas opções ele tem. A mágica está justamente em descobrir
algo novo. E por falar em novidade, Chrono
Trigger é um jogo merece destaque, afinal trouxe uma mecânica que difere dos RPGs
clássicos, que mostra os inimigos e as batalhas no mesmo mapa, sendo escolha
sua enfrentá-los ou não. Eu achei por bem enfrentar a maioria delas, até mesmo
porque as chances de aprender golpes e encontrar itens são ótimas para evolução
do personagem.
Da arte ao som
Nas questões artísticas que permeiam o jogo, o nome
de destaque é de Akira Toriyama, sua arte é reconhecida facilmente por trabalhos
como Dragon Ball e Dr. Slump, e seus traços ficam evidentes nos personagens de
Chrono Trigger. Quanto ao ambiente do jogo, embora fosse o mesmo na maioria das
vezes, os detalhes foram importantíssimos para que o jogador adentrasse nos
períodos e vivenciasse suas diferenças. Na viagem ao futuro percebi que as cores
eram mais escuras e havia muitos prédios em ruínas. Tudo indicava que aquele
lugar estava desamparado e começando a perder a esperança, talvez, esperando a
morte. No entanto quando vou ao presente a ambientação parece querer estar viva
para toda a eternidade, celebrando as conquistas e a sua história.
O Dream Team
como é conhecido o time de desenvolvedores, é constituído por mais dois grandes
nomes: Hironobu Sakaguchi que deu vida a serie Final Fantasy, e Yuji Horri,
diretor da serie Dragon Quest. Os dois foram responsáveis por dar vida a um
sistema de batalha inovador, com até oito ataques cooperativos entre os
personagens. Um bom exemplo foi quando combinei os ataques de Crono e Lucca,
unindo assim fogo e força. Outro item que me agradou foi claramente a animação
dos ataques, que quando combinados somavam uma movimentação frenética com cores
bem iluminadas. Percebi que os elementos trabalhavam entre si de forma
colaborativa e a sua animação não fica por menos, consegue ser fluida. Chama a
atenção quando um gráfico 2D e uma vista isométrica conseguem demonstrar
inovações e trazer ao jogador sentimentos e sensações distintas.
Em relação às animações dos personagens, seus
sentimentos de medo, felicidade, fraqueza, e força, podiam ser vistas durante o
avanço do jogo. No que diz respeito aos personagens e aos seus elementos, Frog
ou o sapo, é da era medieval e sua personalidade é de cavaleiro da nobreza. No
entanto suas ações imitam as de um anfíbio, pulando e usando sua língua para
atacar, além de usar magia de água. Na
era pré-histórica, encontramos a guerreira Ayla que anda como um animal de
quatro patas e utiliza a força bruta como ataque, apesar do jeito grosseiro,
possui uma enorme preocupação com a segurança de seu povo. Outro personagem
importante, desta vez do futuro, é o simpático robô, que após ser reanimado
decide seguir seu caminho ajudando Chrono, por meio de sua inteligência e
força.
A trilha sonora ficou com Yasunori Mitsuda
(Xenogears) e Nobuo Uematsu (Final Fantasy), ambos responsáveis por trilhas
clássicas dos jogos da Square. A música inicialmente
me fez mergulhar no universo do jogo. Sabe quando ouvimos um som agradável em
algum desenho animado, filme ou jogo, e aquela música nos
marca de modo especial? Esse foi caso de Chrono Trigger, que até lançou um CD
triplo no Japão, considerado assim uma obra prima por muitos jogadores. Outro
fator relevante foi a escolha dos efeitos sonoros do jogo, mostrando uma ambientação
e um som totalmente de acordo, podemos notar que em eras pré-históricas os sons
que você ouve são sintéticos, mas que lembram tambores, gritos, e que juntos parecem
produzir um som mais indígena, arcaico. Já no presente durante a Feira Milenar,
quando Crono se encontra com seus amigos, o som que ouvimos possui escalas
crescentes e decrescentes, podemos ouvir claramente uma música suave e alegre.
No entanto, na Idade Média e no Futuro, os efeitos sonoros são mais pesados e
angustiantes, e os ambientes mais escuros, remetendo ao lado negro da força.
Complemento dizendo que é uma experiência incrível
quando podemos ver fielmente o que a equipe quis passar ao jogador, apesar de
não termos a mesma interação toda vez que jogamos até porque são vários finais
diferentes. Ainda assim, pode-se dizer que a emoção é praticamente a mesma,
independente se você joga uma ou mais vezes ou se apenas acompanha o jogo no
sofá de casa.