terça-feira, 24 de junho de 2014

Zeebo, o vídeo game "Brasileiro"


Um dos maiores fracassos na história dos vídeo games

Se você nunca ouviu falar do Zeebo, alegre-se, pois você não perdeu quase nada. A não ser que você goste de histórias trágicas, pois o Zeebo é extamente isso, uma grande tragédia. Zeebo é um conjunto de boas ideias executadas de forma errada, desastrosa e sem a devida pesquisa de mercado. Outros exemplos de fracassos famosos no mundo dos mundo dos games são: Virutal Boy (Nintendo), Saturn (Sega) e Jaguar (Atari). Mas o Zeebo se destaca por ser um projeto ambicioso, que visava tomar boa parte do mercado ocupado pelo clássico PlayStation 2. O que deu errado? Veja a seguir.


Zeebo é um console de vídeo game brasileiro que envolveu parceria de empresas de sete diferentes países: Brasil, Estados Unidos, Argentina, China, Israel, Japão e França. O console foi fabricado pela Tectoy na Zona Franca de Manaus e foi lançado dia 25 de maio de 2009 no Brasil com o preço inicial de R$ 499,00 (equivalente a um PS2 vendido em mercado informal). Em setembro do mesmo ano seu preço caiu para R$ 399,00 e ainda em novembro do mesmo ano o preço caiu novamente para R$ 299,00. O console acompanhava três jogos na memória: FIFA Soccer 09, Need for Speed: Carbon, Treino Cerebral e mais 3 jogos para download gratuito: Prey Evil, Zeebo Extreme: Rolimã e Zeebo Extreme: Jet Board.

Características: O Zeebo é o primeiro console de mesa a não usar nenhum tipo de mídia física para a comercialização de jogos. Eles são disponibilizados por download através da rede ZeeboNet 3G e armazenados na memória interna do videogame (de apenas 1GB). Essa rede é sem fio e própria do console, onde o jogador não precisa utilizar modem, acesso a banda larga ou mesmo pagar qualquer mensalidade para utilizar o serviço. Basta ligar o console e ele automaticamente se conecta a rede wireless ZeeboNet 3G, disponível em todos os locais onde houver cobertura da rede 3G. A Tecnologia ZeeboNet 3G permite que o videogame receba atualizações gratuitas, enviadas ao jogador através de downloads automáticos que ocorrem enquanto o aparelho está em modo "stand-by".

Versão do Zeebo com novo controle e teclado
O aparelho possui três entradas USB 2.0 (sendo duas na frente e uma atrás), uma entrada mini USB atrás e uma entrada para cartão SD na frente. A conectividade com a televisão é através do cabo AV. A maioria dos jogos foram disponibilizados para ele são versões de jogos de celular adaptadas ao português e com nova resolução VGA de 640x480 com ampliação de texturas e inclusão de modelos mais detalhados. Já outros foram criados exclusivamente para o sistema Zeebo, como os jogos das séries Zeebo Extreme e Boomerang Sports (relançada em 17 de agosto como Zeebo Sports), a primeira voltada para os jogos radicais e a segunda para jogos mais tradicionais, como futebol. Os jogos podem variar de R$ 9,90 a R$ 29,90.

História: De acordo com a Tectoy, a ideia do console surgiu em 2006 por Reinaldo Normand. Em 2008, foi especulado como projeto Genie, que seria uma parceria entre a Tectoy, a Qualcomm e mais outras empresas em lançar um console destinado a países em desenvolvimento que não utilizasse mídia física para seus jogos. Em novembro do mesmo ano a Tectoy anuncia oficialmente o nome do console programado para ser lançado no primeiro trimestre, junto com suas especificações técnicas, descrição sobre a ZeeboNet, o anúncio de 6 jogos e o seu preço de lançamento de R$ 599,00. No dia 25 de maio de 2009 o console é lançado exclusivamente na cidade do Rio de Janeiro, para teste do console no mercado, e em algumas lojas online do Brasil pelo preço de R$ 499,00, abaixo do divulgado anteriormente. O console traz consigo 3 jogos na memória (FIFA Soccer 09, Need for Speed: Carbon e Treino Cerebral) e mais 3 para download gratuito (Prey Evil, Quake e Quake II).

Em 25 de setembro a Tectoy anuncia a sua primeira queda no preço do console, que passa a custar R$ 399,00. Em 4 de novembro o Zeebo é lançado oficialmente no México, com um preço sugerido de $2.499,00. O console foi disponibilizado em mais de 2000 estabelecimentos mexicanos, trazendo novos recursos que incluem um novo gamepad e um teclado para a navegação na internet. A versão mexicana contou com cinco jogos gratuitos na memória e uma hora de acesso a internet. Em 16 de novembro, o console recebe uma diminuição de preço no mercado brasileiro, baixando de R$399 para R$299. O preço surgiu na mesma data em que foi lançado em lojas físicas de todo o Brasil. O console fechou o ano de 2009 com 29 jogos lançados no Brasil.

O Zeebo sofria com a falta de lançamentos e com poucos títulos em seu catálogo, até que no mês de abril foram lançados 7 jogos de uma única vez, todos clássicos de arcade da Data East. Ficou claro que a Tectoy teve a intenção de agradar também o publico mais velho. No dia 15 de junho de 2010, são retirados do catálogo do Zeebo dois dos jogos que já vinham pré-instalados no consoles gratuitamente, foram eles Quake e Quake II, ambos publicados pela id Software e portados pela Tectoy Digital para o Zeebo, este dia marcou o inicio da redução na quantidade de jogos catálogo do console. Tal situação seria repetida a alguns dias mais tarde, em 21 de julho, quando novamente a Zeebo Brasil confirmaria, através de seu Twitter oficial, a retirada de mais um jogo, dentre os pré-instalados no consolo do catálogo do Zeebo. O jogo da vez foi Need for Speed Carbon: Own the City, publicado pela EA Games e portado também pela Tectoy Digital. Em 17 de agosto a série Boomerang Sports foi relançada como Zeebo Sports, ainda composta por 4 jogos só que agora compatíveis com o Boomerang (controle com sensor de movimento semelhante ao Wii Remote) e com o Z-Pad.

Do lado esquerdo, Resident Evil 4 original. Do lado direito, Resident Evil 4 no Zeebo
No dia 1 de setembro é realizada uma coletiva de imprensa da Zeebo Brasil para apresentação do novo posicionamento do Zeebo no mercado e lançamento de um novo modelo do console, agora com acesso a internet, redes sociais, chats, um novo controle chamado Zeebo Dragon e um teclado, semelhantes ao do modelo lançado no México. Este novo modelo manteve o mesmo preço do anterior e contava com nova embalagem e novos jogos pré-instalados: Treino Cerebral, Boomerang Sports: Vôlei e Zeebo Extreme: Bóia Cross. Também foram anunciadas duas importantes parcerias com a Maurício de Sousa Produções e com a Disney Interactive Studios para desenvolvimento de conteúdo licenciado para o Zeebo.

Em 27 de outubro, a Zeebo Inc. anuncia a entrada do Zeebo no mercado chinês, onde o foco principal será a TV Digital e a distribuição de conteúdo em Alta Definição em parceria com a China Digital TV Holding Co., Ltd., ou simplesmente China Digital TV. Foram demonstradas duas aplicações, Blue Sea School e Fish vs Pirates, que estão sendo desenvolvidas ela empresa chinesa Nebula Soft., e uma versão exclusiva do jogo Boomerang Sports: Tênis, desenvolvida no Brasil pela Zeebo Interactive Studios. No mesmo dia, a Zeebo Brasil anuncia mais uma mudança no catálogo do Zeebo. Desta vez o jogo retirado do catálogo foi Prey Evil, e o jogo que passou a estar disponível para download gratuito (custando 10 Z-Credits), no modelo antigo do console, foi Zeebo Extreme: Bóia Cross. O console fechou o ano de 2010 com 28 jogos lançados no Brasil.

Em 31 de maio de 2011, a Zeebo Brasil anunciou em seu blog, o fim das operações no Brasil. Segundo a empresa todos os jogos sofreriam redução de preço e a ZeeboNet 3G permaneceria ativa até 30 de setembro. Ainda segundo a empresa, os serviços de garantia seriam mantidos, segundo as exigências da lei brasileira. No mesmo dia, na ZeeboNet 3G, uma mensagem no detalhe do jogo Turma da Mônica em Vamos Brincar Nº 1 informava que o jogo seria retirado no final do dia. Também em 31 de maio, a Zeebo Inc. anunciou o encerramento das suas atividades no México nas mesmas condições aplicadas no Brasil, a loja virtual daquele país permanecerá ativa até 30 de setembro e haverá redução de preços nos jogos.

Controle com sensor de movimento do Zeebo
Z-Credits, a moeda do Zeebo, era a utilizada para a compra de jogos diretamente com o servidor da Tectoy, com a conexão ZeeboNet 3G. Os modos de aquisição de Z-Credits eram: Cartão de crédito (Visa ou Mastercard), boleto bancário, débito em conta e aquisição de créditos via lan house autorizada. O Boomerang é um controle sem fio que contém um sensor de movimentos. Ele é composto de um direcional digital, dois botões (1 e 2) e um botão Home, requer 2 pilhas AA para o funcionamento. O Boomerang é vendido separadamente a um preço de R$ 99,00 ou em conjunto com o console a um preço de R$ 399,00. Semelhante a o Wii Remoto, mas inferior.

Para desenvolvedores os jogos são classificados em 3 categorias, de acordo com o tamanho:
  • Low Price Category - Para jogos casuais, com tamanho máximo de 8 MB.
  • Standard Price Category - Jogos intermediários, com tamanho máximo de 25 MB.
  • Premium Pricing Category - Jogos complexos, com tamanho máximo de 50 MB.
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Boas ideias do Zeebo:
  • Dispensar mídia física.
  • Jogos totalmente em Português do Brasil.
  • Jogos exclusivos.
  • Acesso a conteúdo educativo sem a necessidade de internet banda larga.
  • Jogos com preços atrativos.
  • Console com preço atrativo voltado a classes emergentes.
 O que não deu certo:
  • Qualidade dos jogos extremamente baixa.
  • A maioria dos jogos eram versões adaptadas de jogos de celular. 
  • Pouca variedade de jogos disponíveis.
  • Jogos exclusivos de baixa qualidade e variedade.
  • Preço absurdamente alto (em relação a seus concorrentes diretos e indiretos).
  • Não era possível jogar online. 
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Pressionada, a Tectoy queria mais tempo antes do lançamento do Zeebo: “Falamos pra eles (Qualcomm) que precisávamos de mais tempo para melhorar os jogos e o próprio console”, conta Stefano Arnhold (presidente do conselho da Tectoy). Porém, àquela altura a Qualcomm, dona do dinheiro, disse que não esperaria mais. Bem ou mal, o Zeebo chegou às prateleiras. E se o público-alvo era o consumidor dito “casual”, em busca do seu primeiro videogame, o preço de R$ 499 (Preço equivalente ou até mais caro que o valor cobrado na época pelo PS2 vindo de mercado informal) selou de vez a sorte do videogame brasileiro. Nos meses seguintes o preço caiu duas vezes, primeiro para R$ 399 e, depois, para R$ 299. Este valor aliás, era a meta da Tectoy desde o começo, mas variáveis como impostos e a política pouco ortodoxa da Qualcomm em não subsidiar o preço do chip do Zeebo, embora fosse parceira do projeto, aumentaram o valor inicial.

“Ficamos posicionados como um concorrente para o PlayStation 2, só que menos potente e com menos jogos. Foi um erro”, lamenta Reinaldo Normand (idealizador do console). O preço alto, o posicionamento incorreto e a baixa performance gráfica minaram as chances do Zeebo. “Nunca houve lucro com o console. Sempre houve prejuízo”. Mas, o Zeebo poderia ter dado certo diante de circunstâncias diferentes? Olhando por outros ângulos,  Normand acha que se o Android fosse uma opção viável na época, talvez a historia fosse diferente: “Quando o Android ganhou força, lá por 2009, era tarde demais para nós, e recomeçar do zero não era uma opção, pois afetaria diretamente os interesses da Qualcomm”.

Reinaldo Normand
Já na opinião de Penha, o escopo do Zeebo era grande demais: “Deveríamos ter identificado um nicho específico de público, que poderia ser atendido por nós”, lembra, usando como exemplo do que não fazer a infeliz comparação com o PS2. “Quando você fala com um mesmo público-alvo de um console, deve criar algum motivo convencê-lo a mudar de lado. E isso custa muitos milhões de dólares”. Arnhold que o diga: “O que não imaginávamos é que o volume de recursos necessário para viabilizar um console seria tão grande. Erramos por dez vezes”, lamenta. Pelas suas estimativas, aliás, a Qualcomm teria colocado US$ 100 milhões no projeto, mas números precisos não foram divulgados, já que a Tectoy é uma empresa aberta.

O fato é que o Zeebo só deu prejuízo desde o começo, já que o console custava mais caro para ser produzido mesmo quando ainda vendido a R$ 499. Pelo menos não sobraram tantas unidades no estoque, de acordo com Arnhold.

Comentário: Não é necessário nem mesmo testar o Zeebo para concluir que não daria certo. Uma pessoa com conhecimentos medianos sobre games, ao tomar conhecimento das características do Zeebo, concluirá no mesmo momento que é uma ideia boa, extremamente mal executada. A ideia de criar um console que usa somente jogos digitais na época era um tiro no escuro, algo que hoje  é bem mais plausível (tome como exemplo o OUYA, que não usa nenhuma mídia física para seus jogos). O principal ponto negativo do Zeebo com certeza é a baixa qualidade de seus jogos, o limite máximo de 50 mega é ridículo para os padrões da época. Quando falamos em qualidade, não estamos nos referindo apenas a gráficos mas também a jogabilidade, já que no Zeebo a resposta dos controles era lenta para muitos jogos. O hardware limitado, combinado ao tamanho minúsculo disponível para os jogos, acrescentando seu preço alto foram o que condenou o Zeebo desde seu nascimento.

Fontes: UOL Jogos, Wikipedia, Opiniões diversas e opiniões pessoais do TGD.

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